Vodu, Mon Amour! (Pt.1)
Como a onda agora é falar de Vodu, achei legal fazer um post sobre isso dando uma geralzinha básica no assunto. Esqueçam, ninguém vai ficar expert em Vodu lendo isso aqui, mas pelo menos vai ficar menos leigo…já é uma evolução.
Well, o que é o Vodu? Vodu como a gente conhece hoje em dia é uma religião afro-haitiana que tem como base religiões de matrizes africanas, religiões locais (é gente, tem índio também no Haiti, sabe?) e a dose básica de bom e velho catolicismo. Dizem que no Haiti 94% da população é católica e 100% do Vodu. É engraçado, mas tenta imaginar um pouco da Bahia dos anos 30, é quase aquilo! Todo mundo vai pra Igreja de manhã e pro Hounfort à noite, de boa na lagoa.
Na época da colonização francesa, como bons europeus cristãos e pés no saco da época, obviamente nego proibiu a prática durante um bom tempo, o que acarretou em…mais um povo europeu sendo feito de besta! Coisas normais da vida, proibiu culto de Deuses de outros povos? NO PROBLEM! Vocês tem santos e NÓS VAMOS USÁ-LOS PRA CULTUAR NOSSOS DEUSES e um grande beijo pros franceses. Essa situação durou até a sofrida independência do país (que, diga-se de passagem, tem um monte de boatos super legais…tipo nego fazendo sacrifício pros Lwas irem pra porrada junto com os haitianos, Lwa incorporando em alto escalão do exército e fazendo nego se matar…MÓ LEGAL E MUITO MERECIDO).
Bom, a partir daí o Vodu passou a ser legal e cultuado por todo território. Claro, como era de se esperar, os escravos que foram pro Haiti não vinham de uma etnia africana só, vieram de VÁRIOS lugares…cada um com sua devida crença e seu ponto de vista. Essa diversidade gerou três tipos de cultos principais no Haiti (lembrando que apesar de terem vários aspectos em comum, os Hounforts não possuem exatamente uma padronização no que tange ao culto de todos os Lwas, ou seja, você vai ter Hounforts que fazem cultos a x entidades e Hounforts que vão ter cultos a y entidades). São eles:
Linha Dahomey – O culto dahomeano é o mais popular no Haiti. A maior parte das procissões e festividades que você vai ver nas ruas do país são associados a eles. É o culto que mais mistura a questão dos Lwa com os Santos católicos, além de ter dado origem ao Hodoo. O “pai de santo” nesse culto é chamado comumente de Hougan e a “mãe de santo”, Mambo. Coisinhas básicas que todo mundo confunde: A toda poderosa Marie Laveau era uma Mambo do culto Dahomeano. A origem do nome vem de “serpente” e a divindade principalmente deles é Damballa (apesar de toda casa ter a boa e velha estátua de Damballa boladona no altar, não é todo Hounfort que tem cerimônia específica pra ele). Os Dahomei acreditam que os Lwas são mensageiros dos Orixás, que por sua vez, são manifestações de Grand Met, aquele que criou o mundo.
Linha de Congo – O culto congolês é mais ortodoxo que o dahomeano, os pontos são cantados em língua africana e não em creole como no dahomé, as entidades não são sincretizadas com santos e etc. A questão do Grand Met também não é aceita nessa linha, que acredita que cada Orixá é uma divindade totalmente independente da outra. As casas da linha de Congo pertencem a diferentes orixás (no rito Dahomei, todas pertencem a Damballa) e cada um vai dar mais ênfase no mito e nos ritos daquele orixá em específico. O Pai e a Mãe de Santo são chamados Serviteur.
Linha Makaya – O rito Makaya é geralmente aquele que quando você fala perto da galera mais medrosa, nego trata de fazer sinal da cruz, cantar ponto pros Rhada e por aí vai. É o culto predileto de Hollywood, as histórias sobre Zumbis, aprisionamento de espírito e etc. vem tudo daí. A linha Makaya é mais ligada aos Lwa Petro, entendidos como sendo a face guerreira (e obviamente mais agressiva) dos Lwas Rhada além de mexerem um bocado com os Djab (não, não tem diabo nenhum não, já já eu explico o que é). O Pai de Santo dessa linha é chamado Bokor (esse nome é conhecido pela galera curtidora de filme de terror dos anos 80) e a mãe de Santo, Sorcière.
Galera independente – “HEIN? COMO ASSIM?” É gente, foi daqui que saiu o Hodoo. Tinha uma galera que não curtia religião e começou a fazer Vodu sem ser iniciado, sem estar em Hounfort, só mexia com o que queria…essa galera são os Malefictur (no português claro, bruxa) que têm esse nome dado pela galera do Rito Dahomey que sempre acusa essa gente de enfurecer os Orixás com suas práticas…é, eu não queria ter que usar esse termo, mas nego lá chama de profano mesmo.
Pontos em comum desse povo todo:
- De um modo geral, independente da linha, todos os voduístas acreditam que o homem é composto de cinco partes:
Corpse Cadavre – Ãh…corpo?
N’ame – A energia vital do homem (num paralelo sinistro, você pode entender isso como o chi da medicina oriental)
Zétoille – Essa é a parte mais legal, o destino do homem. Dizem que a galera menos bem intencionada do rito Makaya ADORA mexer aqui… (lembra aquele fio das Moiras? É tipo aquilo). É encarado por alguns cultos como a sorte do sujeito.
Gros Bon Ange – A centelha divina colocada no homem quando ele nasce. As casas de dahomei acreditam que é a parte de Grand Met que há em nós, já as casas de congo e makaya, acreditam que é a parte que o orixá protetor daquela pessoa pôs nela quando ela nasceu.
Ti Bon Ange – “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe” define bem isso aí. É basicamente a personalidade que você adquire durante a sua vida terrena. Seus defeitos e qualidades e etc. É essa parte que volta (quando você pede e passa por todo o ritual lá) como Lwa Ghede.
- Todo mundo acredita em Lwa (jura?) e segue mais ou menos a mesma padronização não só de classificação como de hierarquia:
Lwas Ghede – Eu juro que queria falar isso de forma melhor, mas cara…é a exuzada. Não tem muito o que discutir. Os Lwas Ghede são o cortejo dos espíritos mortos. Todo Lwa Ghede, com exceção dos “chefes de falange”, já viveu na Terra e foi do Vodu. Sem querer desrespeitar, são a galera mais terrena, então é normal você ver o povo aparecer cantando, dançando, zoando o pessoal a rodo e tal. É em geral a parte mais animada das sessões. As figuras mais marcantes são Mamam Brigith e o famoso Barão Samedi. Nota interessante sobre os Ghede: Os chefes de falange sempre tomam uma bebida específica, no caso de Barão Samedi e Mamam Brigith, é uma mistura de rum, amendoim torrado e pimenta o suficiente pra provar que a incorporação NÃO É FINGIDA. Baron bebe metade da garrafa assim que aparece, de uma vez só, enquanto Mamam passa o restante em suas partes íntimas (pago pra ver charlatão fazendo isso).
Obs.: Maman Brigith é cultuada com outro nome no rito Congo, por conta de sua origem. Para os Dahomei e os Makaya, Maman Brigith é associada a Santa Brígida, enquanto para o rito Congo, essa associação simplesmente não existe.
OBS.: Apesar da comparação de Exú com os Ghede, ELES NÃO SÃO A MESMA COISA.
Lwas Rhada – São os Lwas Ancestrais, antigos e poderosos. São sempre os primeiros a serem chamados durante as cerimônias, para limpar e proteger o lugar e os participantes. Esses Lwas são vistos como partes dos Orixas e aparecem seguindo exatamente aquilo a que são associados. Por exemplo, se for um Lwa descrito como dançante, ele vem dançando, se for um Lwa do mar, incorporado, ele vai passar a maior parte do tempo andando de um lado a outro e assim por diante. O chefe dos Rhada é Damballah, o Lwa serpente que dá origem ao nome do culto dahomey. Outros Lwas dessa linha são: Erzulie Freda, Aida Wedo, Legba, La Sirene, Ogoun (não confundir com Ogun orixá), Marassa, Agwe e etc.
Lwas Petro – São a galera que segura a onda. A face guerreira dos Lwas Rhada comandadas por Mait Carrefour, são chamados sempre ANTES do início das cerimônias, afim de guardar o Hounfort de possíveis ataques. Não possuem índole boa ou ruim e não obedecem ordens de ninguém além dos orixás. No rito Makaya, existe uma iniciação especial para quem vai trabalhar com Carrefour. Em geral, suas oferendas SEMPRE levam sangue e sempre são despachadas longe das oferendas de outras entidades. Dizem que uma Sorcière famosa do antigo Haiti teria rogado pela a ajuda de Erzulie Dantor, a face guerreira de Erzulie Freda, na luta contra os franceses.
Djab – E finalmente, os Djab. Não, não são diabos, na verdade, são mais parecidos com elementais. Os Djab são seres que vivem e protegem a natureza, porém, assim como os Petro, não possuem índole boa ou ruim e fazem qualquer coisa em troca de oferenda ou de proteção aos seus lugares de habitação. Eles não possuem nomes, em geral são chamados de acordo com onde vivem (Djab da cachoeira x, Djab da clareira y e assim por diante). Os Djab são comumente usados pelos Malefictur por serem mais acessíveis e mais “”fáceis”” de lidar que os Lwa Petro. Em geral, é essa galera que faz o que não deve em nome do pessoal menos bem intencionado.
Obs.: Os Lwa Petro também são constantemente usados para foder os outros, mas nesse caso, nunca é feito por um Malefictur e sim por um Bokor devidamente iniciado e fodão.
Por enquanto é só pessoal, amanhã eu falo sobre os orixás do Vodu, alguns graus de iniciação e por aí vai. E velho, pelo amor da luz elétrica, não vai se meter em furada de “hounfort” de vodu brasileiro até lá… Fuiz!
OBS.: Apesar da comparação de Exú com os Ghede, ELES NÃO SÃO A MESMA COISA
fonte: http://parasitedeimos.blogspot.com.br/