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Capítulo 3? – Um homem tem que fazer…

Hannow tinha ficado ali por algumas horas, o corpo do que deveria ser um homem alto e magro permanecia amarrado a cadeira, seus pulsos e coxas tinham cortes profundos e estavam sujos de sangue, porém o chão abaixo dele estava totalmente seco, apenas com um estranho círculo desenhado em giz.

– Tá entregue… – Disse Hannow enquanto deixava o cômodo e acendia um cigarro.

Ele segue em passos lentos descendo a rua escura, seu andar parece preguiçoso ou dolorido, não tinha como definir bem, mas normal não estava. Hannow estava cansado, não tivera tempo pra descansar depois do grande inferno que tinha enfrentado a apenas algumas semanas atrás, suas feridas mal tinham cicatrizado e ele já tinha voltado ao trabalho… e que trabalho escroto era aquele. Ele continua seguindo pela rua enquanto acende mais um cigarro, está calor e ele veste um blusão preto amassado, calça social e sapatos mal engraxados, parecia uma espécie de motorista particular depois de uma noitada, mas tinha um certo estilo nele.

Hannow olha pra cima como se analisasse um mapa, faz uma expressão de quem encontrou o que procurava, gira ao redor do próprio corpo e se depara de frente a um terreno baldio grande, cercado apenas com estacas prendendo arames farpados enferrujados, não impediriam ninguém de entrar, mas serviam pra dar um  ar de “quem diabos iria querer entrar aqui?”, o que realmente impedia alguém de entrar era o mato alto e cortante que praticamente cercava todo o terreno. Apagando o cigarro Hannow se inclina em direção ao paredão de capim, esse deveria ter ao menos uns 2 metros e meio de altura e era uma mescla de mato seco e verde, ambos com bordas bem cortantes que deixavam marcas na camisa de Hannow.

Após andar em linha reta no interior do terreno, após uns 300 metros o capim já não mais dominava a área, agora o ambiente era de capim baixo, com pequenos montes de entulho e lixo de todo tipo, roupas velhas, brinquedos, em especial bonecas, canos, pedaços de rebocos e placas de sinalização, aquele lugar deveria estar servindo de lixão para os moradores da região, que apesar de bem poluído não apresentava nenhum tipo de vida animal característica como ratos, baratas e gatos de rua, tirando o capim e algumas plantas nada mais estava vivo ali, e o motivo logo iria se apresentar.

Hannow tenta acender um cigarro quando parece ter chegado no local correto, não tinha diferença nenhuma do restante do caminho mas estranhamente dava a impressão de que ele estava no meio de alguma coisa ou lugar, ele sabia que ali era o X do mapa, mesmo que não existisse nenhum mapa ou X aparente. A chama do isqueiro cisma em não permanecer acesa tempo o suficiente para que ele possa botar fogo na ponta do seu cigarro, era como se alguém soprasse sempre que ele se inclinava para acender o cigarro, 6 tentativas depois ele simplesmente amassa o cigarro na mão e atira-o pra trás dos ombos, com um tom de quem está ficando nervoso ele solta.

– Cara, como eu odeio esses bichos… – Pegando um pedaço de cabo de vassoura no chão e riscando alguns símbolos enquanto espraguejava sem cessar.

Ele senta no centro daqueles símbolos e sem nenhuma dificuldade acende um cigarro, dá pra perceber um sorriso de canto de boca como quem diz “é tá funcionando”, ele apoia uma das mãos no chão e estica as costas olhando pro céu soltando uma baforada de fumaça densa que sobe em linha reta fazendo caracóis, esse procedimento dura alguns minutos até que Hannow apaga o cigarro na palma da mão esquerda e solta quase inaudível.

– Vamos começar essa merda.

Ele fica parado por alguns minutos, sua posição é uma especie de lótus desleixada, a respiração parece bastante irregular e as mãos e pés apresentam pequenos espasmos quase imperceptíveis, e poucos conseguiriam ver mas seus lábios mexiam, mesmo que levemente, a única coisa que podia-se perceber com muita facilidade era como seus olhos se remexiam rápido por sob as pálpebras, ele parecia uma máquina em funcionamento e aquilo se seguiu durante bastante tempo até que ele simplesmente cessou todo aquele estranho ritual e simplesmente abriu os olhos.

Agora ele podia ver claramente ao redor o que parecia uma mescla de mundo físico e mundo espectral, tinham paredes altas e sujas surgindo por entre os montes de entulho, janelas quebradas mal penduradas em paredes translúcidas envoltas de mato e lixo, era confuso, mas não pra Hannow, ele já estava acostumado com aquele tipo de ritual e mais ainda, ele sabia que aquilo surgiria, o dever de casa tinha sido feito e nenhuma surpresa desagradável seria tolerada, não dessa vez. Ele esperava ver o velho orfanato/albergue e foi exatamente isso que apareceu pra ele… mas onde estavam as crianças?

A dúvida não durou muito, virando-se pra trás ele conseguiu enxergar ao menos 3 delas, estavam na borda do que seria um circulo que ele havia desenhado, elas arranhavam sua borda com as unhas como se pudessem arrancá-lo do chão, não parecia dar muito certo pois tudo o que conseguiam eram esfolar as pontas dos dedos e decepar suas unhas… o que não parecia afetá-las. Hannow não parecia impressionado, e deu alguns passos em direção as criaturinhas grotescas, as quais de perto eram ainda mais desagradáveis com seus olhos vazios e dentes podres rindo de forma demente pra Hannow enquanto insetos caíam de suas bocas… era uma cena realmente perturbadora.

Chutando a cabeça de uma das figuras Hannow solta um irritado:

– Dá pra parar com a palhaçada?

Continua…

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